A Árvore da Vida

Uma boa pedida para uma densa reflexão é o filme "A Árvore da Vida". A quantidade de símbolos é tanta, que absorver tudo de uma só vez é impossível. São muitos detalhes e nuances, silêncios e palavras nas entrelinhas, sentidos subliminares, cores e imagens intensas... uma miríade de mensagens. Brad Pitt e Sean Penn são coadjuvantes, o filme é a estrela principal.

"A Árvore da Vida" não possui roteiro linear e muito menos se propõe a apresentar uma história com começo, meio e fim. Vida e morte fazem parte do fio condutor da obra, integrando o ser humano ao universo, seja pela força da natureza ou o mistério insondável do infinito. 


O nascimento de uma criança conecta-se ao Big Bang... o crescimento entre choros e risos, passos lentos e descobertas, é o movimento da Terra formando-se há mais de 10 bilhões de anos. Belíssimas imagens nos proporcionam uma viagem ao passado intocável, a natureza nascendo, a água fonte da existência, o fogo impiedoso e salvador das trevas, o início da vida em nosso planeta, dois dinossauros representando o feminino e o masculino, o silêncio que ninguém jamais ouviu...

Uma fotografia exuberante e trilha sonora instrumental perfeita acompanham as imagens densas, delicadas, felizes, tristes, compondo um diálogo com as palavras. Cenas de enquadramento tão íntimo, que deram-me a impressão de estar registrando tudo com meus olhos em câmara lenta, intensificando os traços do que via.

"A Árvore da Vida" é um filme filosófico, ainda com questionamentos espirituais, não é religioso, tem um alto teor existencialista. Emoções explodindo, sentimentos contidos, pensamentos sussurrados, gestos represados, nos mostram o quanto somos complexos, únicos ainda que participando da mesma dor e alegria, as personagens são tão reais quanto nossa família... o bairro de classe média, as refeições sobre a mesa, as descobertas e as perdas da infância, os sonhos desfeitos, a fragilidade na sombra da coragem, enfim, tão humanos quanto somos.

O filme tem início com Sean Penn e a selva cinza da modernidade, seus fantasmas ecoando em sua cabeça o levam a uma viagem até os anos 50... vemos o pequeno Jack nascendo e aprendendo a andar, tornando-se um garoto questionador e muito observador. 

Seu pai, interpretado por Brad Pitt (convincente), é severo demais, alternando momentos de carinho com repressão doentia. A mãe, doce e terna, forte presença na vida dos filhos, é sensivelmente interpretada por  Jessica Chastain, magnífica (sem exagero!). Vale destacar: o Complexo de Édipo é facilmente visto por nós.

"Pai. Mãe. Vocês estão sempre lutando dentro de mim. Sempre estarão". Diz o garoto de olhos expressivos de tudo e nada.

A morte do irmão ainda jovem de Jack, jamais esquecido pelos familiares, é permeada por questionamentos existencialistas: qual o sentido da vida? que estrada seguir? de que forma conquisto meu destino? por que o sofrimento e a dor? na dualidade do bem e do mal, qual vencerá? como compreender a vida e a morte caminhando juntas? por que Deus "dá" e "tira"? Aliás, o jovem ator que interpreta Jack criança encara de igual para igual os colegas mais experientes nas cenas.


Para nós, assistir "A Árvore da Vida" é um exercício essencial na compreensão do ser humano, transcendendo o olhar, procurando entender os símbolos, desconstruindo padrões, abrindo mão do convencional, aprendendo a buscar as perguntas certas para as respostas que precisamos, olhando para o outro sem esquecermos que somos igualmente diferentes e tão diferentemente iguais, nas mesmas aspirações e contrárias reações, essencialmente imperfeitos.

Um olhar pessoal sobre o filme é tão essencial quanto o psicanalítico. A subjetividade não deixa lugar para uma fórmula pronta de entendimento. Teu olhar não será o mesmo que o meu, nem as sensações e os significados, podemos até nos encontrar em alguns momentos, mas cada um carrega para si uma compreensão e assimilação únicas após o fim do filme.


"A Árvore da Vida"

Escrito e dirigido por Terrence Malick
Com Brad Pitt, Sean Penn, Jessica Chastain
Lançamento: 2011 (EUA)

Sinopse: A relação entre pai e filho de uma família comum, ao longo dos séculos, desde o Big Bang até o fim dos tempos, em uma fabulosa viagem pela história da vida e seus mistérios, que culmina na busca pelo amor altruísta e o perdão.



Ganhou a Palma de Ouro no Festival de Cannes (2011).

Veja o trailler do filme logo abaixo!

Abraço!
Andréa Freire
Psicanalista


3 comentários:

  1. Oi . Andréa . Assisti ao trailler do filme e fiquei curiosa e intrigada . O tema é bem instigante .E lá no nosso curso, CENAS DO COTIDIANO ,o que será que o pessoal escreveria ,depois de assistí-lo ? Gostei muito de ler o seu texto e vou tirar minhas conclusões sobre o filme ,já que fiquei muito interessada. Abraço Beth

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  2. Andréa ,e por falar em vida ,logo após o FINADOS,lhe enviei um texto para você publicar no SABOR da MATURIDADE ,caso você achasse adequado. Envie-me a resposta por e-mail ,por gentileza ,e suas considerações . Abraço Beth

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  3. Oi, Beth!Que legal ver seus comentários. Pode deixar que procurarei no email.
    Assista ao filme, realmente ele é instigante e intrigante. Se estamos dispostos a aprender mais sobre a vida, encontramos belas e sábias lições.
    Seria legal mesmo apresenta-lo em sala de aula... cada aluna teria sua visão, com certeza! Beijos!

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