Do que é feito o amor?



Remexendo meu arquivo encontrei um texto que decidi compartilhar. Não sei precisar quando foi escrito, mas não havia chegado aos trinta anos e agora, quarentona que sou, volto a lê-lo mais uma vez com intensidade. Outrora na espera de ser amada, hoje tenho mãos com calos de quem amou. De arquitetos nos tornamos pedreiros do amor se de fato queremos amar. Publico abaixo um trecho do texto que escrevi com inspiração sôfrega.

O amor maduro não é fraco em intensidade, ele é apenas mais silencioso. Não é menor em extensão, é definido. Não é escondido, é humilde. Não é vaidoso, é seguro. Não precisa de presenças exigidas, pois se amplia nas ausências significativas. Vive apenas os problemas da felicidade, que são formas trabalhosas de construir uma vida em comum. Problemas da infelicidade não interessam ao amor maduro. 

Cresce na verdade e dispensa a ilusão. Não usa enfeites, flâmulas, medalhas, porque não busca fama, é humano. Não precisa de armaduras, pois está sempre exposto. Basta-se com o todo do pouco, não quer o nada do muito. Tem a capacidade de crer e continuar, é a valorização do melhor do outro, relaciona-se com a parte salva e vai buscar a que está perdida. Cria dimensões novas para emoções antigas, semeia fé, esperança, confiança e paz nos terrenos da imaginação. 

O amor maduro é pacífico, mas não desiste de querer, sentir e esperar, porque não se detém na dor, no cansaço, na derrota. Está relacionado com a vida e sua plenitude, por isso é pleno em si mesmo e torna quem ama assim, inteiro.

Andréa Freire
Psicanalista
Texto Publicado no Jornal Leia Mais / Sorocaba-SP
Novembro de 2012

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