A vingança da
garotinha abandonada no lixão tem dividido opiniões, vejo até quem defende a
madrasta má e se comove com seu sofrimento, de vítima, a mocinha se transformou
em vilã. Rita/Nina colocou para fora tudo o que guardou dentro de si, com o
ódio alimentado, até que pudesse devolver, na mesma moeda, o sofrimento vivido
na infância! Por que não seguiu em frente, traçando um futuro diferente? Ou
mesmo, não contou tudo à família Tufão, ao Batata/Jorginho e com ele viver o
amor da infância?
Porque Rita/Nina se
identificou com Carminha. A vítima espelhou o agressor. Um processo
inconsciente que leva o indivíduo a repetir os mesmos atos do outro, ainda que
estes sejam condenados por ele. Mesmo mudando de país, de família e de nome, não
foi possível escrever uma nova história. Suas lembranças continuaram tão
vívidas e revividas mentalmente, que o futuro só poderia ser um reflexo do
passado. Até que, finalmente, ao ter a vilã em suas mãos, o inferno que estava
dentro de si mesma tirou o céu da senhora do “divino”.
Rita ficou livre para
agir e transformar em realidade suas fantasias contra Carminha. Bastou a oportunidade
para que revelasse o quanto foi uma aluna aplicada. Aprendeu todos os golpes da
mestra, até mesmo a interpretar, a parecer um anjo de candura, frágil e
indefesa... Depois ser o próprio diabo em pessoa! Rita e Nina tornaram-se uma
só!
Quantas pessoas,
quando criança, passaram por situações traumáticas e agem como os agressores que
as oprimiram! Na infância não temos o filtro que permite escolher os valores a
serem seguidos, simplesmente podemos nos identificar com aqueles que nos fazem
bem ou com os que nos fazem mal (os conflitos vividos não são compreendidos e
superados, mas assimilados negativamente).
No caso de Rita/Nina, ela
ainda manteve toda sua energia fixada em Carminha. A vítima, por “vontade
própria”, permaneceu anos no cativeiro da inimiga. O trauma vivido: a perda do
pai e do lar, precisava ser repetido como punição. É possível mudar uma personalidade? Não. Mas
seu caráter sim, seus valores e consequentemente seu jeito de agir e ver a
vida, assimilar as experiências boas e superar as ruins.
Quanto a Carminha, nas
cenas dos próximos capítulos, poderemos entender porque é a megera e não a
mocinha do horário nobre!
Andréa
Freire
Psicanalista
Artigo publicado no Jornal "Leia Mais" - Setembro de 2012
Sorocaba/SP
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