A Estrada Pessoal

Saber como chegar ao lugar de destino é cômodo e facilitador, nos sentimos seguros, pois há uma considerável redução de riscos. Quando o caminho é desconhecido, nossa atenção tem que ser redobrada, o trajeto é incerto, procuramos nos prevenir de todos os perigos possíveis, principalmente de nos perder, o tempo de locomoção pode ser mais demorado, buscamos alguém que nos explique detalhadamente a estrada ou nos certificamos de ter um mapa em mão para seguir viagem. Tais atitudes revelam prudência? Insegurança? Medo? Responsabilidade? Preservação? Controle? 

Já as pessoas de alma aventureira buscam justamente o caminho desconhecido, o incerto, o mistério, sair da rotina, são conquistadores de terras nas quais nunca pisaram e despertam desafios. Tais indivíduos costumam apreciar o novo caminho, têm olhos curiosos, cada espaço é especial para sua alma que tem sede do novo, não têm pressa, o processo é tão interessante quanto o fim.  Há quem coloca a vida em perigo, mas a adrenalina de superar-se, de alcançar a meta, de vencer o improvável, é muito maior. Inconsequentes? Corajosos? Seguros? Impulsivos? Livres?

Conheço pessoas que vão sempre aos mesmos lugares. E dizem: “lá eu conheço, me sinto melhor, não há risco de me decepcionar”. Outras que sempre buscam um lugar novo, não vão ao mesmo local com frequência e não existe programa, falam: “na hora decido aonde ir, o que pintar, estou dentro”!


Em qual perfil nos encaixamos? Qual postura defendemos? Cada um possui argumentos para justificar suas atitudes. Não crio aqui o grupo do certo e do errado. Na verdade, quero fazer sim uma analogia à estrada do conhecer-se. Ela não tem um mapa definido, faz-se no trajeto, possui paisagens que nos são familiares e também outras que jamais imaginamos ver, há momentos de segurança e outros tantos de temor, mudança e conversão de rota, paradas no caminho.

A estrada do conhecer-se é uma mistura do novo e do antigo, do conhecido e do incerto, certezas se diluem em “nãos”, encontros acontecem em perdas, a ordem se estabelece no caos, a verdade impera, passado, presente e futuro se entrelaçam e cada um segue seu rumo.

Temos coragem de seguir nessa estrada? O medo do que encontraremos em nós é maior? Sair do comodismo é difícil demais? Admitir fraquezas e a necessidade de ajuda fere nosso orgulho? Nos contentar apenas em ver nossa imagem no espelho não é superficial demais?
Quanto mais nos conhecemos, mais existimos de fato, e não personagens que criamos para nós mesmos, além das pessoas. Temos verdades próprias. Avançamos nossos limites. Superamos barreiras. Fechamos feridas abertas. Perdoamos. Recomeçamos. Nos fortalecemos. Amadurecemos.

Descobrimos novos caminhos na vida, aprendemos a superar frustrações e enfrentar os medos. Somos mais sinceros conosco e com o outro. Resgatamos sonhos perdidos, abandonamos projetos alheios para planejar e realizar o que almejamos. Aceitamos que o inevitável existe, buscamos a novidade, olhamos as mesmas paisagens com uma nova visão, nos preservamos melhor, mas também nos lançamos ao desconhecido.

A estrada do conhecer-se é fundamental para nos realizarmos de fato, como seres humanos. É descobrir o vasto universo interior e compreender que cada um tem o seu, tão belo e tão dolorido quanto o nosso. Que estamos todos juntos nessa viagem de viver, sozinhos ou de mãos dadas.

Paz e Bem a você!

Andréa Freire
Psicanalista

andreafreiresorocaba@gmail.com

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